O bem estar da criança está intimamente ligado com a habilidade de
seus pais. Não é incomum encontrar, na clínica infantil, crianças cujos
problemas poderiam ser resolvidos caso os pais tivessem alguma instrução
sobre análise do comportamento. Este pequeno guia sobre como lidar com
os filhos tem o objetivo de prevenir problemas e fornecer ferramentas
aos pais para resolverem possíveis problemas de comportamento dos
filhos.
POR QUE NOS COMPORTAMOS?
Para começar, vamos entender por que nos comportamos.
O mais importante a saber é que fazemos o que fazemos porque fomos
ensinados. Tudo o que fazemos é aprendido, até mesmo os comportamentos
inadequados dos nossos filhos. Se os pais não ajudam o filho na escola,
não pedem para eles arrumarem o quarto, não se preocupam se eles saem à
noite, com certeza as crianças vão aprender que não precisam estudar,
não precisam arrumar o quarto e podem sair para onde quiserem. O fato de
que comportamentos são aprendidos é uma boa notícia: significa que
podemos ensinar maneiras diferentes de agir. Podemos identificar quais
são os comportamentos dos nossos filhos que são inadequados, e criar
situações para que eles aprendam melhores formas de se comportar. Para
isso, precisamos entender melhor sobre os motivos do comportamento.
Em primeiro lugar, as pessoas se comportam para conseguir algo que
querem. Por exemplo: abrimos a geladeira para pegar água, vamos à escola
para aprender, convidamos nossos amigos para brincar porque eles nos
fazem bem, e assim por diante. Também nos comportamos para evitar algo
que é desagradável. Por exemplo: colocamos blusas quando está frio,
estudamos para não ir mal à prova, tiramos o sapato se há uma pedra,
etc.
Outra propriedade importante do comportamento é que ele é diferente
em lugares diferentes. O comportamento na sala de aula difere do
comportamento no recreio. As ações diante do chefe diferem das realizada
na presença do marido ou da esposa. É importante saber disso porque é
comum que nossos filhos se comportem de maneira inadequada com o pai,
mas não com a mãe, ou somente na escola e nunca em casa. Se conseguirmos
identificar em que situações e com quais pessoas nossos filhos se
comportam de forma errada, mais facilmente podemos corrigir esse
comportamento.
Vamos usar o exemplo da criança que faz arte na presença do pai e não
da mãe. Podemos supor que parte do problema está no fato de que o pai
não deve estar estabelecendo regras para a criança, enquanto a mãe
consegue impor limites. Agora imaginem uma criança que só estuda na
véspera da prova. Muito provavelmente ela faz isso porque os pais não a
incentivam a estudar um pouco a cada dia. Se a criança cuidada pela avó
faz birra somente quando a mãe, que trabalha o dia todo, chega em casa,
isso pode significar que ela está tentando chamar a atenção da mãe com a
birra. Esses exemplos mostram a importância de saber em quais situações
e com quais pessoas as crianças se comportam inadequadamente. A
identificação desses momentos é fundamental para planejar a mudança do
comportamento.
A RESPONSABILIDADE DOS PAIS
Os
pais, se desejam ajudar os filhos a corrigir comportamentos
problemáticos, devem assumir a responsabilidade pelo que está
acontecendo. O que os filhos fazem está relacionado com o comportamento
dos pais. Portanto, há sempre algo que pode ser feito para o bem das
crianças. É fundamental que os pais assumam a responsabilidade porque
eles são as pessoas mais importantes para os filhos e é principalmente
na convivência familiar que a criança se desenvolve.
Agora que já foi falado sobre os motivos do comportamento, os pais
precisam saber que existem quatro formas diferente de lidar com as ações
dos filhos.
A primeira e mais recomendável forma de lidar com os comportamentos
dos filhos é premiar as ações positivas com elogios, carinhos,
presentes, passeios, comidas preferidas, etc. O comportamento positivo
premiado tende a ocorrer novamente. Esse prêmio, no entanto, não deve
vir após uma ameaça e deve ocorrer da forma mais natural e menos
planejada possível. O prêmio também não deve ser apresentado sempre, mas
apenas de vez em quando. Crianças que ouvem palavras de incentivo dos
pais crescem felizes, saudáveis e autoconfiantes. Os melhores pais são
aqueles capazes de dar atenção aos filhos. É preciso tomar cuidado para o
prêmio não virar chantagem. Repito: o prêmio (seja carinho, passeio,
etc) deve ser o mais natural e menos planejado possível. Pais que
premiam sempre e fazem todas as vontades dos filhos podem estar criando
crianças mimadas que terão problemas de se adaptar à realidade. Crianças
que têm tudo o que querem não desenvolvem autoconfiança e têm
dificuldades em lidar com a frustração.
A segunda forma de lidar com os comportamentos dos filhos é não fazer
nada. Há pais que, independentemente do que os filhos fazem, seja bom
ou ruim, nada fazem: não dão prêmios ou broncas, não fazem carinhos nem
deixam de castigo. Pais que não se importam para o que os filhos fazem
podem estar criando adultos com dificuldade de aprendizagem, com baixa
auto-estima e baixa autoconfiança. Essas crianças podem se tornar
adultos apáticos, incapazes até mesmo de conhecer suas próprias
preferências.
A terceira forma é motivar o filho com algum tipo de ameaça. Por
exemplo, há pais que criam regras como “se você não estudar, vai ficar
de castigo” ou “ou você arruma o quarto ou vai apanhar”, e assim por
diante. Essa forma de lidar com as ações dos filhos apenas empurram o
problema para frente, mas não o resolvem. Filhos que crescem recebendo
ameaças não são capazes de entender o porquê devem se comportar de
maneira positiva. Serão adultos desconfiados e com medo de errarem.
A quarta forma é brigar ou bater nos filhos sempre que eles fazem
algo errado. Apesar de parecer a mais funcional das formas, é a menos
recomendada. Filhos que apanham ou são xingados pelos pais se tornam
adultos violentos, sem nenhum amor próprio e sem autoconfiança. Alguns
estudos correlacionam a violência na infância com criminalidade. Por
isso, bater ou xingar é a pior maneira de lidar com os filhos. Sempre
que possível, os pais devem evitar punir suas crianças. Como dito
anteriormente, é muito melhor ensinar os filhos por meio da premiação.
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