domingo, 25 de agosto de 2013

Lidando Com os Sentimentos Negativos do Seu filho

Uma das tarefas mais difíceis dos pais é lidar com os sentimentos negativos das crianças. A vontade que dá quando eles começam a extravasar o ódio é mandá-los parar de se alterar, ou quando eles partilham seus sentimentos pessoais conosco dizendo, por exemplo, que odeiam a escola ou o irmão, em geral dizemos que é feio falar assim, que ele deve ser amigo do irmão ou que a escola lhe dará uma boa instrução.
Então, nós os julgamos, envergonhamos ou damos alguma explicação lógica para neutralizar o ódio, ou seja, tratamos os sentimentos pessoais dos nossos filhos, exatamente como nos desagrada que tratem os nossos, uma vez, que ao compartilharmos nossos sentimentos mais íntimos não buscamos julgamentos, lógica, razão ou conselhos, não queremos que nossos sentimentos sejam postos de lado, negados ou não sejam levados a sério, mas, paradoxalmente, exatamente o que não gostamos que façam conosco é o que fazemos com nossos filhos.
Ao agirmos desta maneira com nossos filhos, colocamos um tampão nos sentimentos da criança, e à longo prazo esta ação é destrutiva, porque, o que leva uma pessoa a abrir seus sentimentos é a busca de compreensão, e ao invés de compreendê-las, acolhe-las e dar continência, nós fazemos recomendações sobre o que elas podem ou não sentir.
Esquecemos que não é possível viver sem conflitos, e conflitos geram sentimentos negativos, e quando tais sentimentos podem ser expressos e aceitos, perdem o poder de destruição, porque o sentimento é algo desorganizado, sem forma e sem nome e, portanto, uma vez que a criança pode falar sobre isto, estas emoções organizam-se, tornando-se nomeáveis, e a criança (adultos também) através da fala, adquire a capacidade de pensar sobre estes sentimentos, dar um contorno àquilo que parecia perene, consegue processar, elaborar e buscar novos sentidos, através dos quais sofrerá menos, ou, até, perceberá que está fazendo uma tempestade em copo d’agua ou que sofre a toa.
Os sentimentos mobilizam nosso corpo para a ação, de tal modo, que as emoções nos transformam em pessoas quimicamente diferentes, por conseguinte, se mandarmos a criança parar de se alterar, os ouvidos ouvem, mas as glândulas não – Isto só aumenta a frustração e os sentimentos negativos, na mesma medida que diminui a auto-estima.
Quando há bloqueio das emoções, este bloqueio age indiscriminadamente com as emoções positivas e negativas e a criança se torna reprimida, isto é fica distante e fria – sem criatividade porque perde a confiança nas próprias emoções e idéias.
Esta maneira de lidar com as emoções de nossos filhos nos afasta deles porque demonstra que partes deles não são aceitáveis. Além do mais, quando a criança bloqueia os sentimentos negativos de si mesma, torna-se alienada da plenitude de sua humanidade e de sua natureza, perdendo o contato com o que ela realmente é, e pior do que isso é quando a criança não nega os sentimentos, mas só os esconde então ela conclui que é má. E lá se vai à auto-estima e o auto-respeito.
O melhor caminho para lidar com os sentimentos negativos das crianças, é abrir-se para ouvi-las. Demonstrando genuíno interesse, desejando de fato saber por que, por exemplo, o nosso filho diz que odeia a escola ou o irmão. Deixando a criança se expressar através de uma escuta ativa por nossa parte.
Contudo, a maioria das crianças não sabe expressar seus sentimentos em palavras, neste caso, seria útil, nos colocarmos no lugar de nossos filhos, através de um resgate da fase em que também éramos crianças, e traduzir para eles o que estão sentindo, validando e legitimando tais sentimentos.
Porém, para isto se tornar possível, é necessário que tenhamos uma pré-disposição interna, e não é a todo o momento que estamos dispostos a ouvir e emprestar nossa mente e emoções para ajudar a elaborar os sentimentos de nossos filhos, e a pior coisa é uma empatia fingida, isto só enfraquece a confiança.
Portanto, se não é possível escutá-lo agora, o melhor é dizer: “Sei que você precisa conversar, mas agora não dá, eu estou muito ocupada ou agitada, e assim que eu tiver mais calma, tentarei te ajudar. Quero estar totalmente livre para conversar com você e te ajudar de verdade”. Este tempo a mais será necessário e precioso para desenvolver a pré-disposição indispensável para ouvir e auxiliar nossos filhos.
Da mesma forma, para não ativar sentimentos negativos em nossos filhos, sempre que for dar uma ordem, seja tomar banho, fazer lição, etc. Saiba que da mesma maneira que você, a criança também necessita de um tempo para desenvolver o mínimo de pré-disposição para realizar suas tarefas. Portanto avise-o: “daqui a dez minutos é hora do banho, vai terminando o que está fazendo, ou se prepare para interromper e continuar depois”. Assim, você evita o surgimento de sentimentos negativos no seu filho. E não esqueça: os acordos que fazemos com as crianças, devem ser cumpridos, não de uma forma rígida e severa, mas flexível e compreensiva.
Por fim, pouco a pouco, a criança introjeta o funcionamento mental dos pais, uma vez que somos o modelo para os nossos filhos. E assim, ela aprenderá a nomear e elaborar suas próprias questões. E este aprendizado será de grande auxílio em sua vida futura, afinal “Dar o exemplo não é a melhor maneira de influenciar os outros. É a única” – Albert Schweitzer.
Léa Michaan

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