Que tipo de instrução, afinal, os filhos de hoje precisam? Qual o
modelo de pai ideal para eles? Que qualidades um pai deve possuir nesses
tempos de pós-modernidade, sem perder o que a Bíblia orienta: "Porque
eu o tenho escolhido, a fim de que ele ordene a seus filhos e a sua casa
depois dele, para que guardem o caminho do Senhor, para praticarem
retidão e justiça" (Gênesis 18:19)?
Esses questionamentos provavelmente passam ou já passaram pela cabeça
dos pais que possuem filhos na fase da infância, adolescência e
juventude. Ao avaliar os pais do passado e os do presente, o pastor
Gilson Bifano, líder do Ministério Oikos (Grupo Ministério Cristão de
Apoio à Família), ressalta que os desafios sempre foram grandes, mas
atualmente estão ainda maiores.
"Antigamente nossa sociedade era pró-família. Hoje, não. Antes, os
parentes ajudavam, a carga horária era favorável à vida em família, os
vizinhos eram conhecidos e auxiliavam os pais, não havia televisão, as
escolas ajudavam, os professores eram tidos como o segundo pai/mãe.
Hoje, tudo conspira contra a família, e aí a atenção precisa ser
redobrada. Os pais precisam repensar sobre a grande responsabilidade na
educação dos filhos", declara.
Complementando a análise, o pastor Josué Gonçalves, que é terapeuta
familiar e congressista de família, pontua: "A pós-modernidade trouxe
desafios que há três ou quatro décadas não eram preocupação dos pais,
como a influência da mídia, o advento da internet, o acesso fácil às
drogas, a pornografia, a prática sexual precoce e a busca pela
independência ainda na adolescência. Ser pai hoje é muito mais complexo
do que anos atrás".
Conhecer os filhos é essencial
Mas como deve ser o
pai nos dias atuais? O primeiro passo para ser o pai de que os filhos
precisam, mas que muitas vezes vem sendo colocado de lado, é conhecer,
de fato, os filhos. É preciso saber suas ideias, seus gostos, quem são
seus melhores amigos, como estão suas notas na escola, na faculdade, sua
cor preferida, o estilo musical de que gosta, o que o deixa nervoso, o
que o faz rir.
"É essencial aquela conversa apenas de pai e filho, aquele momento
para passear, para assistir a um jogo de futebol, ir as compras juntos,
para lanchar na rua. Isso hoje em dia é cada vez mais raro. O pai
precisa acompanhar de perto o filho, saber quando ele está bem e quando
está mal. O problema é que isso demanda tempo e o que temos visto é que
os pais estão cada vez mais individualistas, preocupados com o trabalho e
com outras atividades", avaliou Rosane Castilhos, membro da Igreja
Batista da Mata da Praia, terapeuta familiar e psicóloga escolar há 23
anos.
Uma triste história que exemplifica a falta desse contato mais
próximo foi vivida há cerca de um mês na Igreja Assembleia de Deus da
Volta do Rabaioli, em Vitória. Uma adolescente de 16 anos morreu após
complicações em uma cirurgia de apendicite e chocou os parentes e todos
os membros da igreja. Muito envolvida com as atividades, ela não tinha
os pais convertidos e durante seu enterro o pai da menina fez um
desabafo emocionado. "Ao ver a tristeza no rosto dos adolescentes,
jovens e até adultos da igreja, o pai dela chorou e disse que não sabia
que a filha tinha tantos amigos e era tão amada e integrada à igreja.
Ele chorou muito e lamentou não ter conhecido esse lado da filha, que
sempre o chamou para ir aos cultos, mas ele nunca foi. Foi uma cena
muito triste", relembrou Shirley Dorico Siqueira, líder de adolescentes
da igreja.
Ela explica ainda que o que mais os adolescentes reclamam em relação
aos pais, inclusive os pais cristãos, é justamente a falta de diálogo,
da falta de tempo para um conhecer o outro. "Muitos acham que ser pai é
apenas impor regras, mas não é. Ser pai é, principalmente, ser amigo,
ser parceiro do filho. O que falta hoje é conversa, cumplicidade, saber
do que o filho gosta, coisas simples de fazer e que fazem toda a
diferença no relacionamento. Só que hoje os pais não querem "perder
tempo" com os filhos, sendo que, na verdade, estão ganhando. Os
adolescentes reclamam comigo, dizendo: ‘Eu nem começo a falar e meu pai
já começa a brigar. Aí eu fico quieto'. Isso tem que acabar nas nossas
famílias", disse Shirley.
A correria do dia a dia de trabalho é frequentemente a desculpa
apresentada pelos pais para essa falta de dedicação aos filhos. Com
isso, crianças, adolescentes e jovens são empurrados para outros "pais".
O pastor Josué Gonçalves alerta para o que vem sendo chamado de
terceirização do processo de educação dos filhos. "Hoje estamos vendo o
crescimento do número de filhos que são educados na creche, pelas babás e
até pela babá eletrônica, a TV. O resultado disso já pode ser visto,
com famílias completamente desestruturadas. Só existe uma saída:
voltarmos para os princípios da Palavra do Senhor."
Essa terceirização educacional, que desobedece por completo a
orientação dada por Deus de "instrui o menino no caminho em que deve
andar, e até quando envelhecer não se desviará dele" (Provérbios 22:6), é
fruto de um comportamento individualista dos pais, segundo o psicólogo
Tiago Carlos Zortéa, que destaca que os filhos precisam de pais que
sejam referência de firmeza e confiança, mas que estejam, sobretudo,
presentes.
"Percebo, hoje em dia, que as pessoas estão menos preparadas para
serem pais. As mudanças ocorridas no mundo foram rápidas demais e outras
prioridades assumiram o topo da lista das pessoas de modo geral, como o
sucesso profissional, principalmente, e a busca pela felicidade
individual. Se há crianças nessa história, muitas delas são deixadas de
lado e estão sendo educadas por babás, escolas e programas infantis na
televisão. Vejo muitas crianças mendigando a atenção de seus pais",
analisa.
Pai tem que ser "plugado"
Nos dias atuais, a
tecnologia avança muito de um ano para o outro, e esse desenvolvimento
não modifica apenas a relação do homem com as máquinas e os
computadores. As relações interpessoais também sofrem pressão, e um dos
grupos que mais sente essas mudanças é a família, onde as diferentes
gerações se encontram.
De um lado, filhos adolescentes e jovens "plugados" em redes sociais e
em novas tecnologias; do outro, pais que, muitas vezes, mal sabem nem
ligar o computador. "Pais deste mundo moderno têm que ser ‘plugados'.
Ele tem que estar ‘antenado' em tudo, seja em tecnologia, seja também
nas discussões sociais que tocam diretamente o jovem. Só assim o pai vai
poder conversar com o filho, entendendo o que ele quer dizer quando
falar sobre drogas, sexo, liberdade. O pai não tem que aceitar as
tendências do mundo, mas precisa se inteirar sobre as discussões para
poder aconselhar. Se ele não fizer isso, outro vai fazer", declara a
psicóloga Rosane Castilhos.
O pastor Gilson Bifano complementa: "Os pais precisam ser acessíveis,
amigos, sem perder a autoridade. Eles precisam estar por dentro dos
problemas que os filhos enfrentam, como bullying, as drogas, o
homossexualismo, mas precisam, antes de tudo, ser exemplos e conversarem
sobre esses temas à luz a Bíblia, sem dar sermões".
O que é regra na criação de filhos é a imposição de limites, e isso
não mudou nem muda com o passar das décadas. Os limites devem ser
criados, segundo pastores e especialistas, para que as crianças consigam
diferenciar o certo do errado, mas há muitos pais que ignoram esse
assunto porque estão tão ausentes de casa que, quando chegam, não querem
ser taxados de controladores, que estabelecem horários e regras.
"Regras e limites são necessários para todas as crianças. Educar não é
só fazer obedecer, mas mostrar as fronteiras entre o certo e o errado,
os valores, os limites. Afinal de contas, não creio que os pais queiram
que seus filhos obedeçam sem pensar e que sejam meros seguidores cegos
de regras. Fala-se muito em dar limites para as crianças, mas ninguém
explica o que são esses limites e como estabelecê-los, e isso deve
acontecer", salientou Tiago Zortéa.
Os desafios são inúmeros e diários na tarefa de criar filhos, mas não
são apenas eles que estão em crescimento e na busca por conhecimento.
No mundo pós-moderno, da mundialização de informações e do estar
conectado a vários grupos seja através do computador, seja pela internet
no celular, os pais precisam estar por dentro dos assuntos que mexem
com os filhos e, focados nas orientações bíblicas, "criá-los na
disciplina e admoestação do Senhor", conforme Paulo escreveu em Efésios
6:4.
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