Todas as crianças podem ter, a partir do primeiro ano de idade, momentos ou ataques de agressividade
que juntamente com os impulsos contrários, ou seja, de carinho e amor,
são a primeira bagagem emocional que trazem ao nascer. São reacções
adaptativas e inclusive necessárias para a sobrevivência e para o
desenvolvimento normal e devem ser "vividas" pela própria criança. O
problema surge quando essa agressividade se mantém no tempo, converte-se
na forma habitual de resolver os seus conflitos, de chamar à atenção ou
de conseguir o que quer.
Na sua primeira etapa da vida a criança não sabe bem o que pode e não
pode fazer. Isto irá desconcentrá-la e causar-lhe insegurança. Esta agressividade inicial pode
ser entendida, num primeiro momento, como uma forma de pedir limites
para obter essa dita segurança. No entanto, a situação altera quando
essa mesma atitude agressiva converte-se numa ferramenta poderosíssima e
tremendamente eficaz para conseguir os seus desejos. Essa utilidade
aparente (real em algum momento) passa a ser fonte de frustrações e
problemas de comunicação e relação social, chegando a impedir uma
adequada integração, contribuir para um fracassado futuro escolar e em
casos extremos ser a base de uma conduta anti-social que pode desenvolver-se na adolescência e na idade adulta.
O que é uma conduta agressiva?
A diferença fundamental entre este comportamento agressivo inicial
(adaptativo) e a conduta propriamente agressiva radica na sua
intencionalidade. Com esta procura-se provocar um dano, quer seja físico
ou psicológico, de maneira deliberada tanto em forme de murros ou
pontapés, como de insultos, palavras feias ou expressões desapreciativas
perante os outros. Enquanto a primeira apresenta-se como uma forma de
aprendizagem e de adaptação no seu ambiente num período de tempo
determinado, nomeadamente na infância. Já a segunda prolonga-se e
mantém-se muito mais além desse momento vital e converte-se num
instrumento habitual de actuação e resolução de problemas.
Causas e factores que influenciam
A teoria da aprendizagem social defende que as condutas agressivas
aprendem-se por imitação dos modelos que a criança tem à sua disposição
desde o início, ou seja, os seus pais em primeiro lugar e o seu ambiente
social imediatamente em segundo (outros adultos ou companheiros de
jogos). Assim, a criança pode comportar-se e relacionar-se com os outros
quase na mesma forma em que os seus pais o fazem: se estes actuam
normalmente de forma brusca e aos gritos, aprenderão que essa é a melhor
forma de agir. Se, pelo contrário, os pais comportam-se de forma
tranquila e sossegada nas suas relações com os outros, a criança irá
portar-se da mesma maneira com os seus amigos.
Tão importante como a conduta em si é o tipo de consequência que
obtenha da mesma: se depois de uma determinada conduta a criança obtém
algo agradável para ela, a probabilidade de que esse comportamento se
repita aumenta consideravelmente, seja adequada ou incorrecta.
Em Portugal existem muitos pais que educam de forma violenta os seus
filhos, gritando e utilizando o castigo físico com relativa frequência
como método quase único de exercer a disciplina. Este tipo de actuação
provocará mais problemas no desenvolvimento da criança quanto maior seja
a rigidez no castigo, sem esquecer que o castigo físico perde eficácia
com a repetição a não ser que vá aumentando a sua intensidade, pelo que,
na realidade, deixa de ser útil a médio ou a longo prazo. Embora
tradicionalmente se defenda as palmadas na altura certa como uma boa
forma de evitar comportamentos adequados, mais que prevenir o que faz é
provocar essa agressividade não só na criança mas também em nós
próprios.
Em algumas ocasiões o cansaço, os problemas quotidianos, o ritmo
acelerado de vida levam-nos ao recurso fácil das palmadas como solução
efectiva e rápida para controlar o mau comportamento dos nossos filhos.
No entanto devemos saber que existem formas alternativas, respeitosas e
muito mais eficazes para consegui-lo: pegando ensinamos a pegar,
dialogando ensinamos a dialogar, amando e compreendendo ensinamos a ser
boas pessoas.
Pode tratar-se?
Se as condutas se aprendem significa que também podem modificar-se.
Isto aplica-se tanto às condutas agressivas como às mais sociáveis e
positivas. Dessa forma, é evidente que um comportamento baseado na
agressividade pode não só tratar-se mas também ser modificado e
substituído por outro adequado. Assim, uma primeira forma para prevenir a
agressividade é a de a convertermos em modelos adequados para os nossos
filhos, repartindo amor, carinho, ternura, formas de comunicação
positiva, sem gritos nem gestos feios, com firmeza mas com calma. Não
será algo infalível, mas a probabilidade de que nos imitem será muito
maior e, dessa forma, a de que realizem a conduta contrária.
Também é importante que apreciemos a tempo se os nossos filhos
apresentam algum défice de habilidade sociais, fraca capacidade de
comunicação, ausência de estratégias verbais adequadas para resolver
situações complicadas para eles, entre outros, e que possam estar por
detrás da agressividade que manifestem. É fundamental, neste caso,
consultar e falar com os professores perante qualquer dúvida, já que é
na escola onde passam a maior parte do tempo. Tão pouco nos devemos
esquecer a possível existência de factores orgânicos que possam estar na
raiz do problema, tais como doenças específicas, uma nutrição
inadequada ou problemas hormonais.
Se realizando todos os passos anteriores vemos que o problema não se
soluciona ou que, inclusive, continua aumentar, não devemos ter dúvidas
em ir a um profissional que possa ajudar-nos adequadamente a encontrar
tanto as causas do mesmo como as medidas a adoptar para resolvê-lo de
forma satisfatória.
Agressividade na aula
A escola é o lugar onde mais facilmente pode detectar-se um
comportamento agressivo: é onde mais horas passam e normalmente, os
professores ou tutores nos informam a respeito de forma objectiva e
profissional, enquanto se tem percepção do problema. Se isso acontecer,
convém ouvir atentamente as razões e dados que nos aportem sem adoptar
uma atitude defensiva ou de receio. Não nos estão a criticar, estão sim a
ajudar-nos na tarefa de educar os nossos filhos. É aqui, na escola,
onde aprenderão as normas básicas que devem ser respeitadas por todos.
O tipo de amigos ou companheiros com os que mais se relacionam é
determinante, já que se essa associação se produz com crianças
desadaptadas é mais provável que apareçam condutas também desadaptadas
e, pelo contrário, se se unem ou relacionam com amigos com boas
habilidades sociais é mais fácil que adoptem esse comportamento
socialmente aceitável.
Uma vez detectado o problema, o tratamento do mesmo deve ser
compartilhado trabalhando em casa e na escola com um objectivo
fundamental: eliminar ou desaprender a conduta inadaptada e aprender a
adaptativa.
Na escola podem instaurar-se programas de habilidades sociais que
favoreçam a resolução adaptativa de conflitos entre os alunos, onde
aprendam formas correctas de expressar a suas emoções, a controlar a
ira, a relaxar... de tal forma que aumente a confiança e a segurança em
si.
Não obstante, o trabalho mais importante é o preventivo e na escola
pode conseguir-se potenciando a educação em valores, informando sobre a
violência, motivando e tratando os alunos especialmente conflituosos,
não deixando passar nenhuma conduta agressiva sem que se apliquem as
correspondentes medidas correctoras e mantendo uma constante cooperação
entre os pais e os professores, tanto para o caso da criança como para a
que é vítima da mesma.
Por último, não devemos descartar a possibilidade de que necessite de
tratamento individualizado ou, inclusivo, uma alteração de escola não
terá mal nenhum.
Se o nosso filho é agredido...
Geralmente temos tendência em fixar-nos na criança que mais chama a
atenção, no entanto, muitas vezes a criança mais silenciosa pode ser a
que está a sofrer o problema. Devemos também estar atentos a qualquer
alteração de humor que se produza repentinamente na criança, como que se
mostre pouco comunicativa, silenciosa, com reparos na hora de ir para a
escola... Uma descida importante do seu rendimento escolar ou um estado
de ânimo claramente depressivo são possíveis indicadores de estar a
sofrer agressões ou desprezo por parte dos colegas.
Conselhos gerais
- Convertermo-nos na melhor prevenção e no melhor tratamento para o
comportamento dos nossos filhos: o que nos vêem fazer é aquilo que eles
aprenderão.
- Mostrar vias alternativas à agressiva para resolver os seus problemas.
- Praticar relaxamento, para os pais e para as crianças, como se fosse
um jogo: irá ajudá-las a reduzir as tensões desnecessárias.
- Estabelecer um acordo entre os pais: Se um permite quase tudo e o
outro não a criança confunde-se e pode tornar-se rebelde com facilidade.
- Decidir as normas por consenso e sem que as crianças estejam presentes.
- Se ainda assim um dos dois se equivoca, não se repreendam perante as crianças.
- É mais efectivo recompensar um comportamento positivo e adequado que castigar o incorrecto.
- No caso de ser preciso aplicar um castigo, tente que este seja
proporcional à idade da criança e à conduta inadequada realizada: não
deve depender do nosso estado de ânimo mas sim de como agiu a criança.
- Guardar congruência entre o que pedimos e como o pedimos: se lhe
dizemos "Deixa de gritar!" ou "Não brigues!" enquanto lhe damos uma
palmada, desconcertaremos a criança para além de cair no paradoxo de
tentar mostrar-lhe de forma agressiva como não ser agressivo.
- Paciência e carinho: as alterações não se conseguem num dia mas se nos mantermos firmes elas acabam por surgir.
As birras. Como agir?
- Não prestar muita atenção quando isso acontece: quando vemos que
diminui em intensidade continuar com o que se estava a fazer com
normalidade, sem ligar para o que aconteceu.
- Em caso de que a birra se prolongue excessivamente (a paciência das
crianças e a energia são infinitamente maiores que as nossas) pode
usar-se, por exemplo, uma técnica: leve-o para o seu quarto ou lugar
onde possa controlar a criança sem que se dê conta e onde esteja sentada
ou quieta até que a birra passe.
- Aprender quando e onde se produzem com mais frequência as birras:
se é num lugar público com mais gente, se é quando está mais cansada,
etc.
- Não acreditar, embora lhe digam, que uma birra "é algo normal". É sim
algo aprendido anteriormente porque a criança serviu-se disso para
obter o que queria.
As crianças que mordem, o que fazer?
Esta atitude pode aparecer no período que vai de 1 a 3 anos. Pode ter
diferentes causas (ansiedade, disciplina excessiva, os dentes estarem a
sair ou a sua maneira particular de conseguir atenção) mas não deve
permitir-se.
- O facto de os pais morderem também a criança para que "veja como se
sentem os outros" não evitará que continue fazendo-o. Inclusivo poderá
aumentar o seu comportamento agressivo.
- Quando morder outras crianças procure não brincar nem prestar-lhe
atenção durante um tempo breve (4 ou 5 minutos). Aprenderá que com esse
comportamento não obtém "coisas agradáveis".
- Adaptar a nossa resposta à sua idade: com uma criança de 3 anos é
possível falar-lhe indicando-lhe o porquê de não ser correcto morder,
mas uma criança com menos idade não irá perceber.
- Usar um tom firme e desapropriado da conduta mas com calma e tranquilidade.
- Se apesar de tudo persiste em morder, consulte um médico.
- Se o médico não encontra uma causa orgânica deve recorrer a um
psicólogo: irá ajudar a ver e a corrigir as possíveis falhas na sua
maneira de agir perante a criança e irá propor a melhor forma, adaptada
ao seu filho, de solucionar o problema.
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